Puta, rodada e sem moral. A reputação dela não era das melhores, mas ela era minha amiga e eu sempre a colocava em um pedestal dizendo a todos que a criticavam: “eu a entendo, ela passou por coisas difíceis, ela é uma boa menina”. Como se o que ela tivesse passado era muito, ela era linda, as coisas sempre são mais fáceis para pessoas bonitas.
Ela era como era porque queria e não por ter passado por grandes coisas, mas ainda não acho errada a forma qual ela havia decidido levar a vida, pois eu a amava da mesma forma, talvez se fosse diferente não amaria tanto. Ela era aquele tipo de pessoa que ela havia nascido podre já, mesmo negando eu gostava disso, meu deus como eu amava aquele jeito especial dela de ver a vida. Só havia uma coisa que eu odiava nela, o seu sorriso.
Puta que pariu, me desculpe o uso da expressão, mas que sorriso era aquele, um sorriso escancarado de clara felicidade como se tivesse a plena certeza de que todos os homens caiam aos seus pés, e não é que ela tinha razão?, Não é por menos, ela era o estereótipo de beleza: alta, magra e morena. Eu particularmente sempre odiei estereótipos, mas só da boca para fora mesmo. Bancar o “não ligo para aparência” é sempre conveniente para quem é feio. Mas ao ver uma mulher bonita eu esquecia todo meu discurso moralista sem sentido e ia babar nos peitos dela, afinal, é isso que os garotos normais devem fazer.
Conheço-a desde os meus 13 anos, ela tinha 14, nem me lembro de como nos tornamos amigos. Só posso dizer que sempre foi uma amizade fora dos padrões: o menino estranho do canto da sala e a morena gostosa que parecia ter um espasmo muscular de tanto que sorria para todos. Quando digo todos são todos mesmo, desde a tia da cozinha até as meninas que ela tinha certeza que não gostavam dela. Mas confesso que parecia um belo espasmo muscular.
Desde que a conheci ela já era experiente, tinha experimentado quase de tudo e o que ainda não havia experimentado fazia planos para experimentar e me incluía nos planos.
Ela sempre me dizia “nossa cara, você não tem vida, você precisa curtir mais, daqui uns dias está velho e não viveu nada”. Pois bem, comecei me divertir mais. Foi com ela meu primeiro cigarro, meu primeiro porre, meu primeiro baseado, e até o meu primeiro beijo. Que aliais foi algo bem engraçado.
Ela estava bêbada, para variar, me olhou nos olhos rindo e perguntou “você já beijou uma garota?”, fiquei quieto, ela riu alto, disse “olha aqui” e simplesmente me beijou. Antes mesmo de eu pensar em dizer algo ela olhou para o lado e vomitou. Ok, não foi muito bonito, mas foi engraçado.
Costumo dizer que ela foi meu primeiro amor, e foi mesmo, aquele amor inocente, de criança, se é que isso existe. Além do primeiro beijo, quase tive minha primeira transa com ela.
Passávamos a tarde deitados de mãos dadas em minha cama, ela deitada no meu braço, as vezes me acariciando as coxas, eu lhe acariciava os cabelos. Sei que não era bem ali que ela queria que eu acariciasse, mas era o máximo qual eu me permitia. Às vezes ela me olhava no fundo dos olhos como se quisesse me dizer algo, eu perdia os sentidos, desviava o olhar e procurava algum assunto para sair daquele constrangimento.
Meus pais, coitados, achavam que eu comia ela há séculos, até chegaram com um papo sobre camisinha uma vez e claro eu dei um jeito de fugir do assunto, eu era especialista em fugir de momentos constrangedores.
Um dia ela voltou a me olhar nos olhos fixamente, passou a mão na minha coxa, coloquei a mão na cintura dela, ela subiu a mão então e apertou minha bunda, riu e disse “tá precisando fazer academia hein”.
Levantei-me, ela me puxou e cai em cima dela, nos olhamos nos olhos, ela me mordeu a orelha, começamos nos beijar e tirar a roupa.
Quando ela foi tirar a minha calça foi desespero, meu amigão não estava a fim de trabalhar, é um jeito legal de dizer que eu broxei. Como sempre, ela riu e disse:
- Se você me disser que isso é a primeira vez que isso acontece eu vou acreditar.
- Desculpa.
- Tudo bem, não devo ser o seu tipo de garota. Aliás, você nunca me fala das meninas.
- Nunca tenho o que falar.
- E os meninos?
E foi assim que eu descobri que era viado.
O tempo passou, ela continuou na sua louca vida cheia de festas, meninos e muita bebida. Ela abandonou os estudos e arrumou um emprego.
Mesmo todos os dias eu lhe dizendo que ela tinha que voltar a estudar e se preocupar com o futuro ela me dizia “Quero morrer cedo, vou fazer parte do clube dos 27”.
Terminei o ensino médio e ela mudou de cidade. Conversávamos todos os dias por facebook, mas nunca acreditei em amizades a distância. Um dia liguei e ela não atendeu, segundo dia não atendeu, terceiro dia não atendeu. Liguei para mãe dela e ela me passou o endereço.
Quando cheguei lá ela disse que não queria me ver, insisti muito e ela abriu a porta.
Estava chorando, perguntei o que tinha ocorrido.
- Sinto vergonha de mim.
- Por quê?
Ela começou chorar, me contou que tinha pego AIDS e tinha descoberto tarde, sua mãe ainda não sabia e ela já tinha calculado umas 1000 vezes a melhor forma de se matar. Claro, xinguei ela e disse que iria lhe obrigar tomar os coquetéis. Ela chorou a tarde toda deitada no meu colo, eu prometi ficar do lado dela para o resto da vida, e que não seria pouco.
Disse-me que estava com medo e agora se arrependia de quando dizia que queria morrer cedo.
Senti vontade de chorar, mas se eu não fosse forte, quem seria? Teria que ser o homem pelo menos uma vez na vida.
- Você fica engraçado tentando parecer homem.
- Ué, e não sou homem?
- Você é o cara mais homem que já conhecia até hoje, eu te amo.
E sorriu meu deus, que saudade eu estava daquele sorriso.
Ela me beijou no nariz, eu a beijei na testa, ficamos deitados nos silêncio.
Passou um tempo e vimos que chorar não ia resolver o problema. Era melhor comprar sorvete que pelo menos para esquecer aquilo por um momento.
Fomos ao mercado que ficava em frente a casa dela. Na hora de pagar ela percebeu que esqueceu o cartão e foi para casa buscar, eu fiquei no caixa esperando e morrendo de vergonha.
Enquanto ela atravessava a rua passou um carro em alta velocidade e a atropelou.
Estou aqui no velório dela, acho que ainda não me caiu a ficha que ela morreu. A avó dela já está me olhando meio estranho por eu estar aqui rindo sozinho.
Lembrando-me das nossas primeiras vezes de tudo, do nosso jeito, da nossa falta de jeito. Dos momentos vividos e os que ainda pretendíamos viver. A mulher da minha vida estava agora em um caixão.
Minha melhor amiga, a garota que me fez descobrir mil e um mundos dentro de um só. Fez-me descobrir mil e um eus dentro de mim. E me ensinou perfeitamente mil e uma formas de ama-la. Definitivamente ela era o meu amor, meu primeiro eterno amor.
gostei das história,vc que escreve?
ResponderExcluirhttp://beautyoftherockers.blogspot.com.br/
sim sou eu, muito obrigado, mesmo, é super importante pra mim.
ResponderExcluirGostei bastante..e te garanto, n será o único conto que vou ler seu!
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado moça, vale muito pra mim *-*
ExcluirLencinho pff :'(
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