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Filha da puta. Literalmente.


Sou uma puta filha da puta e me orgulho muito disso. Minha mãe não gostou muito da ideia quando virei puta, mas no fim me aceitou como sou cumprindo perfeitamente seu papel de mãe: Amar e aceitar o filho independentemente de quão sujos ou sem moral sejamos.
Meu pai? Meu pai me odeia. Mas creio que ele sabe muito bem que só virei puta apenas  para lhe irritar.
Comecei meu relato já dizendo que era uma puta filha da puta. Puta vocês já sabem que eu sou, agora explicarei o porquê minha mãe também é.
Minha mãe, Leila, sempre foi o tipo de mulher submissa que fazia tudo que o marido queria. Uma Amélia da vida. Fugiu de casa para se casar com meu pai aos 15 anos, meu pai era 17 anos mais velho. Meu pai já havia vivido de tudo enquanto minha mãe não havia nem terminado o ensino médio. Talvez se fosse hoje em dia diriam que é pedofilia, mas minha era uma tonta totalmente apaixonada por ele.
Minha mãe já me contou como se conheceram. Um dia apareceu um cara mais velho em frente ao colégio que aparentava ter 30 anos, tinha uma barba mal feita, cabelos longos e uma moto velha que fazia mais barulho que o meu avô roncando. Esse cara era meu pai. Todas as meninas ficavam babando por ele e pela moto velha dele. Ele apenas exercendo seu papel de macho alfa pegava todas as menininhas. Até que chegou o dia da minha mãe.  Com minha mãe ele foi diferente do que com as outras garotas. No segundo dia ele lhe trouxe uma flor, lhe fez mil promessas e lhe pediu em casamento.
Os pais dela, claro, acharam que era loucura e não permitiram. Então minha mãe fugiu com aquele cara que ela conhecia há menos de um mês.
Não é uma grande e bonita historia de amor, mas minha mãe me contava aquela historia com um brilho nos olhos que era capaz de iluminar a casa inteira.  A forma como ela me contava me fazia pensar que meu pai era o homem mais bonito do mundo. Ele era meu herói, pelo menos até os 10 anos quando vi minha mãe no quarto chorando pela primeira vez. Depois a ouvi conversando com a vizinha que havia descoberto sobre as traições do meu pai.
Os anos seguintes só à via triste, pelos cantos chorando e rindo quando meu pai chegava.
Meu pai era um canalha.
E não, ele não havia mudado, minha visão sobre ele mudará apenas. Agora eu percebia que ele nunca fazia nada por nós, chegava em casa tarde exigindo o jantar pronto, depois se jogava no sofá com uma cerveja na mão e começava a reclamar que isso ou aquilo estava mal limpo ou que ele só trabalhava e ninguém lhe agradecia.
Minha mãe era a esposa perfeita: maníaca por limpeza, cozinhava muito bem e até servia meu pai na mão. Tudo que ele pedia ela fazia calada e não exigia nada em troca. Mas recebia algo em troca: reclamações.
Meu pai um dia chegou  11 da noite em casa bêbado. Minha mãe lhe perguntou onde ele estava até àquela hora e recebeu uma bofetada com resposta.  Minha mãe foi dormir chorando em silêncio e acordou sorrindo para as paredes. Quando os vizinhos lhe questionavam o que era aquele olho roxo ela respondia que havia tropeçado e batido na parede sem querer.  Minha mãe acreditava fielmente que os vizinhos caiam nessa historia, mas os boatos corriam pelo bairro.
Com o tempo aumentaram-se os dias que ele chegava tarde com cheiro de cachaça, aumentaram-se as marcas de batom nas camisas, aumentaram-se as fofocas pelo bairro e aumentaram-se os espancamentos.
Quando ela não conseguia mais esconder as marcas eu finalmente tive coragem de perguntar-lhe o que era, mesmo já sabendo a resposta.
Eu já tinha 15 anos então ela resolveu me contar, mas pediu que eu não tivesse raiva de meu pai, pois ele nos amava.
Chorei o resto da tarde, não que eu não soubesse a verdade, mas ouvir isso diretamente de minha mãe doía e muito.
No fim da tarde lhe perguntei o porquê ainda suportava tudo aquilo calada. Ela me disse que quando ela era mocinha, da minha idade, tudo que ela sonhava era ter uma família, e que a família dela podia não ser a mais perfeita, mas era a sua família.
Desde aquele dia eu percebi que não tinha um plano de vida exato, mas entre meus planos estava não ser como a minha mãe.
Eu já tinha 17 anos quando fugi de casa, me lembro como se fosse hoje mesmo. Meu pai chegou reclamando e eu já exausta de tudo aquilo gritei.
- Porra, deixa a minha mãe em paz, ela faz tudo que tu pede e aguenta tuas traições calada. E tudo que você faz é chegar em casa reclamando e depois lhe espanca sem motivos!
- Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Tá pensando que eu sou um dos teus amiguinhos?
- Não, meus amigos valem muito mais que tu. Pelo menos gostam de mim, diferente de ti!
- Não está satisfeita com a forma como eu trato tua mãe e você? Arrume tuas malas e saia de casa, se não for fazer isso cale a boca que enquanto morar em baixo do meu teto eu quero respeito.
- Tudo bem, irei sair de baixo do seu teto pra finalmente poder gritar para o mundo que você é um grande filho da puta.
Ele me deu um tapa na cara. Meu pai nunca havia encostado a mão em mim, descontava tudo em minha mãe. Eu covarde nunca interferia, me calava, fingia que não via.
Sem pensar disse logo.
- Vou embora dessa casa.
- Vai pra onde? Como vai conseguir viver? Com que vai se sustentar? Vai virar uma putinha barata? Você não sabe fazer nada, você precisa de mim.
- Ótima ideia, vou ser puta. Pelo menos das putas você gosta não é?
Ganhei outra bofetada e sai para a rua.
Dormi na casa de uma amiga e no outro dia ia arrumar um rumo para a minha vida.
Entrei no primeiro puteiro que vi e me pedi trabalho. Eles não me pediram nem minha idade e já me deram um quarto e algumas camisinhas.
Admito que o primeiro programa não foi  fácil, mas o primeiro pagamento fez tudo valer a pena. Com o tempo peguei gosto e estou na vida fácil até hoje. Não tão fácil alguns clientes só aguento bêbada, mas tirando isso vou conseguindo sobreviver.
 Minha mãe me visitava escondida de meu pai às vezes, um dia me disse que havia suportado tudo aquilo por mim, que sozinha não conseguiria me criar. Questionei-lhe:
- E agora? Porque não pede o divórcio?
- Seu pai não me dá dinheiro, mas ao menos coloca comida na mesa e às vezes me dá uns trapos para vestir. E olhe para mim, eu não terminei nem um ensino médio. Onde vão dar emprego para uma velha sem estudos ou experiência?
- Como ele não lhe dá dinheiro? Para as putas aposto que ele tem. Pois comece a cobrar por seus serviços.
Minha mãe começou a rir e no fim disse:
- Tudo bem, se ele quer uma puta, ele vai ter uma puta. Empreste-me uma das suas fantasias.
Minha mãe tinha 39 anos, mas um corpinho de 23, eu e ela vestíamos o mesmo número então eu não vi problema.
Chegou em casa tratou de deixar tudo bagunçado. Meu pai chegou maluco em casa ao ver aquela bagunça, chegou no quarto e deu de cara com minha mãe na cama com uma fantasia de enfermeira.
Meu pai começou a rir, lhe mandou parar com aquela brincadeira. Minha mãe com um olhar determinado lhe disse:
- Agora é assim, se quer comer vai ter que pagar. Convenhamos, sempre fui uma puta, lhe dava por amor, mas tu nunca me pagavas devidamente. Já que não quer me dar amor, me de ao menos o dinheiro. Se quiser comer, vai ter que pagar. E se quiser apenas uma empregada vai ter que pagar também.
- Você só pode estar maluca, vou ter que pagar para comer minha própria esposa. Que por acaso já devia ter arrumado toda a casa e me preparado todo o jantar.
- Correção: Sua ex-mulher.
Minha mãe saiu pela porta enquanto meu pai olhava boquiaberta aquela bunda empinada que minha mãe ainda tinha.
Hoje minha mãe mora comigo, trabalhamos no mesmo bordel.
Os homens são loucos por ela, acho que ela anda gostando da sensação de ser desejada e ainda receber por isso.

Quem diria, minha mãe deixou de ser puta por amor para ser puta por dinheiro, e convenhamos, dinheiro é bem mais importante que amor.

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