- Papai, como eu nasci?
Perguntou Charlie, um garoto de 6 anos com os olhos azuis esbugalhados e fixos no pai. O pai sabia que aquela pergunta seria feito algum dia, ele já havia planejado mil e uma respostas, mas na hora nenhuma veio a boca, gaguejou, pensou, gaguejou mais um pouco e começou a falar:
- Bom, é, quando sua mãe e eu éramos mais jovens nós nos conhecemos, nos apaixonamos, nos casamos e decidimos ter um lindo bebe, então você nasceu.
- Mas como foi?
- Érr, bom, eu e sua mãe nos amávamos, nos amamos ainda e entã....
- O que é o amor papai?
- Amor? O amor é quando você pensa na pessoa quando está longe, quer ficar sempre ao lado dela, as vezes fica com um pouco chateado com a pessoa, mas logo se esquece o porque, amar é quando você não consegue se imaginar vivendo longe da pessoa.
- Mas é só isso? Basta amar e já nasce um filho? Esses dias ouvi uns meninos mais velhos falando que eles tinham terpa... trepado, isso, eles tinham trepado e agora estava com medo da namorada dele estar esperando um bebe. O que é trepar papai? Amar é trepar?
- Ora Charlie, não, amor é o que eu te disse e agora pare de perguntar bobagens e vá brincar lá fora, quando for mais velho conversamos sobre isso.
- Mas pai...
- Tome dinheiro Charlie, vá comprar uns doces.
Charlie não queria doce, queria saber o que era amor, guardou o dinheiro na bolsa e foi ao parquinho que ficava na esquina da sua casa.
Na manhã seguinte Charlie foi pra escola com seu all star favorita e sua camiseta verde nova que havia ganhado de presente de sua avó.
- Que linda sua camiseta – Disse Clara, sua colega da escola, sentavam sempre juntos, lanchavam juntos, passavam o recreio juntos e depois da aula iam ao parquinho juntos – Sua vovó quem lhe deu não é?
Charlie sorriu todo bobo e acenou que sim. Charlie permaneceu com aquele sorriso bobo no rosto o resto da manhã e nem se quer imagina o porque, só sabia que estava se sentindo muito bem com aquela camiseta qual Clara havia gostado.
Charlie chegou correndo e gritando em casa:
- Mamãe, mamãe, mamãe, pode comprar outra camiseta igual essa pra mim?
- Mas porque quer igual menino?
- Essa camiseta faz eu me sentir bem, acho que ela é magica.
- Me conte direito isso menino.
- Bom, a camiseta, a Clara, ela gostou da camiseta, e essa camiseta fez eu me sentir muito bem a manhã toda, eu não conseguia parar de sorrir.
- Hum, a Clara?
- Sim mamãe, mas porque?
- Acho que tem alguém apaixonado aqui.
- Não mamãe, é a camiseta que é mágica.
- Hum, tudo bem então, cuidado, você é muito novo pra se apaixonar hein mocinho, agora vá tirar essa camiseta que ela está toda suja.
- Mas mamãe...
- Ande Charlie, depois do almoço pode ir ao parquinho brincar com a Clara.
Foi desanimado ao parquinho por ter tirado a camiseta, sentou no banco e ficou esperando Clara para poder se queixar de sua mãe:
- Minha mãe me fez tirar a camiseta mágica?
- Mágica?
- Sim, ela fazia eu não conseguir parar de sorrir.
- Deve ser bobagem isso Charlie, essa camiseta também é muito bonita.
Charlie novamente começou a sorrir e até se esqueceu da camiseta, por um momento pensou que a magia estivesse em Clara, mas também pensou que aquilo era bobagem.
Na manhã seguinte Clara não foi à escola, Charlie não sorriu. Chegou em casa e insistiu para sua mãe ligar na casa de Clara, sua mãe riu e novamente brincou “acho que tem alguém apaixonado aqui hein”. A mãe de Clara disse que ela estava com um mal estar pela manhã e por isso faltou na aula, mas que iria sair a tarde pra brincar.
Charlie almoçou e correu para o parquinho, mas antes passou na banquinha do seu Manoel comprar doces com o dinheiro que seu pai havia lhe dado para não ser obrigado a lhe contar o que é trepar.
Clara o esperava com um sorriso no rosto, brincaram até se cansar, se deitaram na grama e foram conversar.
- Clara, o que será que é o amor? Eu pedi ao meu pai esses dias, mas ele parecia estar mais confuso que eu.
- Não sei, mas eu acho que Amor é como uma velhinha e um velhinho que ainda são muito amigos, mesmo conhecendo-se há muito tempo, assim como meus avós.
- Será que ainda seremos amigos quando velhos?
- Não sei Charlie, mas eu gosto de ser sua amiga agora.
- Minha mãe disse que eu pareço estar apaixonado por você.
- E você está?
- Eu não sei, mas eu gosto de você agora também.
- Minha irmã mais velha disse que quando duas pessoas se gostam elas namoram.
- Então a gente deveria namorar Clara? Você quer namorar comigo?
- Minha mãe disse que apenas meninas crescidas podem namorar.
Charlie abaixou a cabeça, o primeiro fora da sua vida, não era fácil superar, ou talvez fosse, lembrou-se dos doces que tinha no bolso e ofereceu a clara.
Clara de surpresa deu-lhe um beijo no rosto e agradeceu Charlie sem jeito sorriu como se estivesse com a sua camiseta mágica.
Talvez amar seja isso, oferecer seus doces sem esperar que a pessoa lhe ofereça nada em troca.
Comentários
Postar um comentário