Minha intenção era estar bêbada demais pra não me lembrar, mas me lembro dele a cada cliente novo que me aparece. Nem me lembro de como fui parar naquele bar, na verdade me lembro sim, mas vou deixar vocês imaginando uma briga, uma decepção ou só vontade mesmo, a imaginação é de vocês. No canto do bar tinha um sujeito mal encarado, aparentava ter uns 35, 36 anos, barba mal feita, cabelo bagunçado, camiseta branca, copo numa mão e cigarro na outra. Agora me veio uma música do Chico Buarque a minha cabeça que acho que ilustra bem a situação “ele me comia, com aqueles olhos de comer fotografia”. Olhei-lhe nos olhos, ele se aproximou e como se fosse dono do mundo só me perguntou:
- Quanto tá o programa?
Com raiva respondi:
- Não sou puta. - Já veio passando a mão na minha bunda e disse-me que pagava bem. O resto da conversa não importa, o que importa é que acabei no quarto de um motel qualquer, desses de beira de estrada que qualquer puta barata dá. Olhou-me nos olhos e me puxou pela cintura, soltou-me e perguntou o que uma menina tão nova andava fazendo por um bar sujo daqueles. Não respondi. Segurou-me pelo cabelo e puxou meu corpo para junto ao dele, me senti como uma presa prestes a ser devorada por um feroz leão. Beijou-me o pescoço, desceu pela minha barriga e me lambeu as coxas, sua cabeça chegou entre minhas pernas e minha reputação chegou ao chão. Meu corpo se contorcia de prazer e na minha cabeça eu dizia não. Veio-me a mente minhas tias dizendo “tão bonita, com um futuro tão promissor”, velhas putas, só sabem criticar a vida alheia e colocar pressão sobre os mais novos, aposto que a noite enfiam os dedos entre as pernas e sentem saudades de quando seus maridos ainda se interessavam por aquela carne morta.
Prazer por prazer que eu insistia em teimar que não, me incendiava mais ainda quando pensava na grana que ia tirar daquele homem. Prazer que se acabou logo. O desgraçado terminou o trabalho e desmontou de mim, sem nem se importar comigo, afinal, quem espera as coxas de um frango assado tremer para parar de comer? Quem espera o grito rouco de um hambúrguer para acabar com a fome? Enfim, o bastardo egoísta pegou um cigarro e deitou do meu lado, eu ainda estendida de pernas abertas esperando. Me ofereceu um cigarro, eu que nunca tinha fumado, não pensei duas vezes. Minha vó sempre dizia que cada vez que alguém fumasse um cigarro, pagava um boquete pro capiroto, já que agora eu era puta, não é isso que as putas fazem? Tossi até quase vomitar os peitos. Ele disse que tinha o xarope pra minha tosse. Falando em boquete...
Terminada a minha parte, o cliente vestiu suas roupas, jogou o dinheiro na própria sujeira em cima da cama e foi embora. Saí direto pra barraquinha do Seu João, o velho das salsichas, melhor amigo das putas famintas. Ser puta da uma fome lazarenta, acabei de tirar uma salsicha da boca e já estava louca pra colocar outra.
por Amanda Martinatti e Wueverton Caetano
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